A Serra da Cabreira Situada entre a Serra do Gerês e a Serra do Marão, a Cabreira faz parte do sistema montanhoso da Peneda-Gerês, encontrando-se a Sul da Serra do Gerês e a Sudoeste da Serra do Barroso. Pouco conhecida, muito por culpa da proximidade com a serra do Gerês, a Cabreira oferece um conjunto de paisagens inesquecíveis: ora nos cumes agrestes, de onde se descobre o mundo em redor, ora nas encostas serenas, redutos de verde tranquilidade. Entre a fauna podemos descobrir garranos, javalis, lebres, lobos e corços. |
Na sua vertente mais a Norte, e localizada sobre uma rechã, encontra-se a aldeia de Espindo, com vista privilegiada para o Gerês. Tem o seu ponto mais alto no Talefe, a 1262 m de altitude, local único para obter distantes e belas panorâmicas. A serra foi sempre um importante aliado das povoações que ali habitavam. É, numa das encostas, que nasce o rio Ave e preserva, ainda hoje, um património raro como fojos de lobo e cabanas de pastor, prova viva da origem e modo de vida das suas gentes. Para conhecer a Cabreira nada melhor que encetar os trilhos pedestres existentes e caminhar por entre a natureza. Esta será a melhor forma de contactar com a fauna, a flora e o património humano presentes na serra. As aldeias conservam ainda muitos dos traços característicos da cultura tradicional. Um passeio pelas ruas destas aldeias, como Espindo, Zebral ou Campos, é reviver épocas em que a cadência do quotidiano era determinada pelos ritmos da natureza. Na mais pura relação de simbiose, as populações trabalham os campos utilizando técnicas de cultivo centenárias. Devido à dureza do meio, as sementeiras e as colheitas eram assinaladas com bailes e cantorias, espelhando a alegria e a força intrínseca das suas gentes. Os rituais, as lendas e as práticas ancestrais fazem parte de um universo mágico e simbólico, muito presente e que reflecte séculos de relação estreita com os elementos naturais.
As aldeias conservam ainda muitos dos traços característicos da cultura tradicional. Um passeio pelas ruas destas aldeias, como Espindo, Zebral ou Campos, é reviver épocas em que a cadência do quotidiano era determinada pelos ritmos da natureza. Na mais pura relação de simbiose, as populações trabalham os campos utilizando técnicas de cultivo centenárias. Devido à dureza do meio, as sementeiras e as colheitas eram assinaladas com bailes e cantorias, espelhando a alegria e a força intrínseca das suas gentes. Os rituais, as lendas e as práticas ancestrais fazem parte de um universo mágico e simbólico, muito presente e que reflecte séculos de relação estreita com os elementos naturais.
A Lenda da Cabreira
Segundo a lenda, a serra deve o seu actual nome a uma jovem e bela cabreira que por ali costumava guardar seu rebanho.
Diz-se que, certo dia, chegou à Serra da Agra uma moça vinda dos lados da actual Espanha. Desenvolta, jovem e bonita, deixou-se ficar com o seu rebanho de cabras, naquela bela paisagem que tanto a encantava. Certo dia, partiu de junto à costa um belo Conde, para caçar nos montes e acabou por ir parar na Serra de Agra. Era uma serra calma, com árvores aqui e além, dando ao local um aspecto belo e acolhedor, de vez em quando quebrado pelo chilreio das aves. Andava o Conde a caçar quando foi surpreendido por uma imagem deslumbrante... Uma bela e angélica pastora guardava um rebanho de cabras. Cumprimentou-a ternamente:
- Bom dia, linda Cabreira! Tens a luz do Sol no teu olhar…
Ela sorriu, envergonhada e respondeu com voz trémula:
- É dos vossos olhos, Senhor... eu não valho o vosso cumprimento!
Então o cavalheiro fez sinal aos seus companheiros para se afastarem e desmontou devagar do cavalo, com um sorriso de promessas:
- Ouve, linda Cabreira... por ti, e só por ti, vou abandonar a caça e ficar neste local... para te adorar!
O Conde depressa se enamorou pela formosura da pastora e ela correspondia inteiramente ao amor do Conde. Assim começou mais um romance de Amor, que durou horas, dias, talvez semanas... Cavaleiro e donzela trocaram as suas juras, como se só eles existissem no Mundo ali os dois sozinhos, recolhidos num recanto paradisíaco.
Mas, em certo momento o cavaleiro lembrou-se que tinha de partir. Obrigações importantes esperavam-no decerto:
- Escuta, minha bem amada... Eu vou, mas voltarei o mais rapidamente possível. Já não posso viver sem ti.
Triste, suspirando, ela apenas confessou:
- Nem sequer sei quem sois... nem como vos chamais...
Ele riu, dominador e feliz.
- Pouco importa... Sou o homem que tu amas e te ama...
Mas se queres saber mais, digo-te que sou o Conde de uma vila próxima que virei buscar-te em breve para o meu palácio. Espera por mim!
- Esperarei até ao fim da minha vida.
E esperou, na verdade, até se secar quase morta de fome e de cansaço e de frio (e de desilusão, também!)
- Preciso de o encontrar, de o encontrar de novo... nem que para isso tenha de ser ave e voar...
E chorou. Chorou tanto, tanto, que o caudal das suas lágrimas se transformou depois num rio e esse rio foi banhar a terra daquele que a abandonou, "Vila do Conde".
E o povo quis perpetuar para sempre, com toda a justiça, o amor desgostoso da moça pastora. Por isso, deu à serra onde ela vivera a sua grande paixão o nome de Serra da Cabreira e, já que ela queria ser ave e voar, passou a chamar ao rio da Vila do Conde, o Rio Ave...
Texto: Manuel Oliveira 2006
Segundo a lenda, a serra deve o seu actual nome a uma jovem e bela cabreira que por ali costumava guardar seu rebanho.
Diz-se que, certo dia, chegou à Serra da Agra uma moça vinda dos lados da actual Espanha. Desenvolta, jovem e bonita, deixou-se ficar com o seu rebanho de cabras, naquela bela paisagem que tanto a encantava. Certo dia, partiu de junto à costa um belo Conde, para caçar nos montes e acabou por ir parar na Serra de Agra. Era uma serra calma, com árvores aqui e além, dando ao local um aspecto belo e acolhedor, de vez em quando quebrado pelo chilreio das aves. Andava o Conde a caçar quando foi surpreendido por uma imagem deslumbrante... Uma bela e angélica pastora guardava um rebanho de cabras. Cumprimentou-a ternamente:
- Bom dia, linda Cabreira! Tens a luz do Sol no teu olhar…
Ela sorriu, envergonhada e respondeu com voz trémula:
- É dos vossos olhos, Senhor... eu não valho o vosso cumprimento!
Então o cavalheiro fez sinal aos seus companheiros para se afastarem e desmontou devagar do cavalo, com um sorriso de promessas:
- Ouve, linda Cabreira... por ti, e só por ti, vou abandonar a caça e ficar neste local... para te adorar!
O Conde depressa se enamorou pela formosura da pastora e ela correspondia inteiramente ao amor do Conde. Assim começou mais um romance de Amor, que durou horas, dias, talvez semanas... Cavaleiro e donzela trocaram as suas juras, como se só eles existissem no Mundo ali os dois sozinhos, recolhidos num recanto paradisíaco.
Mas, em certo momento o cavaleiro lembrou-se que tinha de partir. Obrigações importantes esperavam-no decerto:
- Escuta, minha bem amada... Eu vou, mas voltarei o mais rapidamente possível. Já não posso viver sem ti.
Triste, suspirando, ela apenas confessou:
- Nem sequer sei quem sois... nem como vos chamais...
Ele riu, dominador e feliz.
- Pouco importa... Sou o homem que tu amas e te ama...
Mas se queres saber mais, digo-te que sou o Conde de uma vila próxima que virei buscar-te em breve para o meu palácio. Espera por mim!
- Esperarei até ao fim da minha vida.
E esperou, na verdade, até se secar quase morta de fome e de cansaço e de frio (e de desilusão, também!)
- Preciso de o encontrar, de o encontrar de novo... nem que para isso tenha de ser ave e voar...
E chorou. Chorou tanto, tanto, que o caudal das suas lágrimas se transformou depois num rio e esse rio foi banhar a terra daquele que a abandonou, "Vila do Conde".
E o povo quis perpetuar para sempre, com toda a justiça, o amor desgostoso da moça pastora. Por isso, deu à serra onde ela vivera a sua grande paixão o nome de Serra da Cabreira e, já que ela queria ser ave e voar, passou a chamar ao rio da Vila do Conde, o Rio Ave...
Texto: Manuel Oliveira 2006
Texto: João Oliveira; Manuel Oliveira
Fotos: João Oliveira; João Pinto, Manuel Oliveira
2006
Fotos: João Oliveira; João Pinto, Manuel Oliveira
2006